sexta-feira, 25 de junho de 2010


Feodum
                                                  
Matai-me!
Numa sórdida manhã
— ainda nesta! — aprazível de outono,
em que a dor se furte à bucólica paisagem...

De tom anêmico
minha tez mistura-se à folhagem pálida
O vento calmo sopra minha chaga
semeia meus versos de pólen...

Transpassai-me com a flor-de-lis!
Tombarei com honradez
ao golpe de vossa espada
de cabo cravejado de rubis.

Ah, delírios lúgubres...
Negais-me água?!
Meus lábios de terra
drenam meu canto de fel

Benditos clérigos expurgados! — entoo em cantochão.
Vossas carpideiras beatificam-se aos risos
rameiras enegrecem-se em prantos
Ostentarieis escárnios, hilários bufões?!

Não vos basta ser vossa bastardia?! — rebento tardio?!
Vós que fostes acalentado no ventre, acalantado no seio...
Nobre abastado suserano!
Sois como o aço forjado a frio!

Estarei pronto...
Estou pronto!
Degustarei minha sina
como o sommelier ao bom vinho

Matai-me!
Rematai-me!
Repetidas vezes!
Se não me matais, mato-vos!

E não me canonizeis mártir, nem me perpetueis em hinos!
Queríeis-me em vida, em morte?!
No ordálio jaz a vossa sorte:
Jamais tingireis a terra com sangue de campesinos.

(Aos mártires desconhecidos.)

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